sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

DICA - Livro Free Play, de Kenny Werner

por Marcelo Montes
Marcelo Montes

Amigos músicos, parceiros.

Já me conhecem, sempre que eu acho um livro gringo com algo que me ajudou muito, tenho esse ímpeto incontrolável de compartilhar. Sei que o melhor meio para se compartilhar esse tipo de conteúdo são os chamados blogs. Mas é que eu não venci a preguiça de criar um ainda. Sorry!

Abaixo, um resumo do livro Free Play, do Kenny Werner. O mesmo autor sobre o qual eu andei fazendo uma resenha a respeito de outro livro, que fala de performance e desenvolvimento do músico de um modo geral.

Este, o Free Play, é um livro pequeno e de fácil leitura que me fez rever conceitos e preconceitos sobre as chamadas performances livres (não apenas free jazz, necessariamente).
Difícil negar o que ele diz, pois demonstra na prática os resultados com seus projetos em trio, como side man ou até formações sinfônicas (procure no youtube).

O livro, que tem o formato "play along", mostra como a prática do "free play" pode melhorar a organicidade em vários tipos de formações, além de oferecer recursos para a construção de simpáticos drones que podem servir como interlúdios, introduções, finalizações, ou mesmo performances completas. Além, claro, de ajudar na evolução de músicos de de grupos sob vários aspectos.

Não tive a pretenção de substituir o livro com esse resumo. Trata-se apenas de um aperitivo. Primeiro, algumas citações-chave do Werner sobre o assunto. Depois, um link onde subi em MP3 as 13 faixas do CD que vem com o livro.

Conceituando

“A história da humanidade move-se entre ação e reação. Em um momento, todo movimento é a reação a um movimento predecessor. Quando formas atingem estados mais complexos, o desejo de liberdade é implantado. Quando a sociedade está imersa em regras, o movimento ripe clama por liberdade”.

“Uma grande coisa sobre tocar livremente é que, com frequência, pode-se extrair ideias que tornam-se base para novas composições”.

“Como na yoga, onde um praticante pode sentir-se confortável em posições inicialmente insuportáveis, só se pode tocar livre de uma forma quando se pratica ao extremo essa forma”.

“Pratique em dois níveis. No nível 1, pratique ao extremo formas e regras a ponto de não ser mais preciso pensar nelas. Por outro lado, pratique a mesma quantidade de música livre, tanto quanto toda sua fantasia possa desenvolver.” Não devemos abrir mão nem de uma, nem de outra.

“A única música livre verdadeira é aquela que é livre da necessidade de soar bem”.

"Em um grupo, basta um participante ter o desejo de soar bem para não haver mais música livre”.

“Isso não quer dizer que não se deva exercitar a autocrítica, mas momentos livres de qualquer julgamento são absolutamente necessários”.

“Um músico, ao exercitar a ausência de julgamento e livre da preocupação com técnicas pré-concebidas pode descobrir detalhes sobre a técnica que nunca imaginaria antes”.

“Frequentemente me perguntam como eu desenvolvi meu timbre. Técnica, exercícios, estudos... Eu sempre respondo que eu desenvolvo meu timbre descobrindo a sensualidade de tatear meu piano”.

“Música não é espiritual simplesmente quando ela fala de Deus. Música é espiritual quando a luz é revelada através dela”.

Alguns motivos para se tocar livremente

- Ajudar-se a recuperar, ou em muitos casos descobrir, uma forma natural de tocar seu instrumento;
- Para experimentar diferentes ataques, volumes, velocidades, notas;
- Para desenvolver uma relação sensual com os elementos da música: ritmo, harmonia e melodia;
- Apreciar um sentimento ampliado que levará formas e regras a um nível muito mais profundo;

Confira as 13 Faixas comentadas e também com citações do próprio autor

1 - Sequências Randômicas - Notas Longas: sons lentos tocados randomicamente (aleatoriamente). Pratique com essa faixa amplicando sua mente. Ouça tudo como consonante. Não se atenha a choques harmônicos (colisão de notas em semitons). Ouça as notas da mesma forma como você ouve buzinas de carros nas ruas. Aceite-as como perfeitas. Toque notas longas e medite com o som. Aceite as notas que você toca, entendendo que não há notas certas e erradas.

2 - Apenas sons: indo um passo adiante, agora tocamos notas não temperadas. Tratam-se apenas de sons. Você precisa tocar seu instrumentos de maneira e em regiões nunca experimentadas. Você está apenas gerando sons na mesma sala na qual essa faixa é tocada.

3 - Notas Curtas: esta é uma improvisação staccato. O único parâmetro é que todas as notas são curtas e devem contribuir para ordenar algum ritmo. Porém, não há tempo específico ou forma. Sinta-se confortável, pois não há chance alguma de arruinar a peça.

4 - Notas em Cascata: após interagir com notas longas na faixa 1, com sons na 2 e estacados ritmados na 3, você pode estar interessado em glissandos. Dialogando com o CD, experimente movimentos contrários ou ritmicamente alinhados com o que é tocado ou opondo-se às ideias da faixa.

5 - Peça Harmonizada: acordes são tocados, mas você não deve ouvi-los como acordes. Toque junto, mas sem se preocupar com uma conexão harmônica. Com a repetição, você se aproximará da tonalidade, mas não procure isso, não se preocupe. Apenas toque. Na faixa, Em alguns momentos você pode ouvir o baixista tocando entre duas notas porque ele não estava certo sobre qual funcionava melhor. Há algo importante a se aprender sobre essa busca do que é correto. Demonstra que a ausência de medo, no caso desse exemplo, pode criar um senso de ordem mesmo quando na verdade o que ele fazia era testar opções. A busca dele soou musical, pois não havia medo.

6 - Ritmo Livre: a peça começa com um ritmo simples em 4/4, mas depois começa-se uma desconstrução, demonstrando como ausência de forma pode fluir na em uma forma. A maneira como o baixista, enfatizando uma nota pedal, pode dar a impressão que ele tenta impor um senso de tonalidade, mas isso logo fica para segundo plano. A única real unidade no grupo é o pulso.

7 - Drone em E: um acorde SUS cria um ambiente onde se pode experimentar muitos caminhos. Escalas, ideias.... De uma escala maior a um mixolídio. O SUS é um acorde ambíguo que contribui para essa liberdade. Medite, simplesmente toque.

8 - Ritmo SIM, Harmonia ou Cadência definidas NÃO: um walking divertido. Não á forma além da ideia de ritmo. Em alguns momentos parece que há um agrupamento de 4 compassos, mas não foi intencional. Sinta-se livre para tocar junto.

9 - Andamento Rápido, sem Harmonia ou Cadência definidas: O mesmo conceito que o anterior, mas em um andamento mais rápido.

10 - Um Músico em Cm: McCoy Tyner e Coltrane eram muito bons nesse tipo de som, que por vezes servia de preâmbulo para os temas. Neste caso, embora o acorde principal também seja um SUS, há uma predominância de escala menor, gerando um drone bem diferente do da faixa 7.

11 - Faça um Dueto com o Baterista: Toque

12 - Faça um Dueto com o Baixista: Toque

13 - Faça um Dueto com o Pianista: Toque

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