domingo, 30 de maio de 2010

ACORDE DE DOMINGO

Tecnologia, música e senso
estético na modernidade

* Caio Garrido

Na sociedade contemporânea atual há a tendência em se valorar aquilo que, acima de tudo, é extremamente objetivo e sintético. Não há muito espaço para o subjetivo. Na música atual acontece o mesmo.

A máscara que o mercado fonográfico colocou e todo o mercado e indústria ligados à música, é de um lugar de um falso senso comum, onde o que se interpõe entre mídia e indivíduo é uma robusta molécula de relação instintiva de marketing, encantamento pelo trivial e enovelamento capitalista.

Um exemplo: Os videogames atuais sucumbiram e assumiram, no momento, o papel de intérpretes do mundo real, seja por meio de jogos de guerra, assassinatos em massa, como também por uma tradução estética pejorativa da música.


Um exemplo disso é capitaneado pelo jogo de videogame “Guitar Hero”, que implementa e cria uma superficialidade musical na cabeça das pessoas. As crianças não podem ser culpadas por tal fato (já que são elas as principais a utilizar os jogos), dado que são facilmente despojadas de senso crítico.

O subterfúgio do jogo é o de possibilitar uma fácil apreensão da música e simular, assim, o tocar de um instrumento. Tais condições estéticas não geram nas pessoas a capacidade e a condição de criar e de apreciar uma determinada arte de forma subjetivamente mais saudável.

Eu mesmo já vi várias outras opiniões sobre esta mesma questão. Dizem que o jogo Guitar Hero estimula a pessoa ir a uma escola e aprender música, ou comprar um disco. Pode até ser. Ou até que videogame é arte (cada um com seus problemas… rs).

Se é arte com “a” minúsculo ou com “a” maiúsculo, cabe a cada um, na sua humana humildade, decidir. Mas muitos desses pareceres, desses modus operandi de ver a situação, já estão contaminados pela massificação e manipulação do pensamento, que já vem da própria infância atual, que vai crescendo em um mundo já organizado para implantar, seduzir e traduzir suas emoções e percepções pelo viés do Oba-Obismo tecnológico.

Eu me lembro, por exemplo, do ar rarefeito que se diluía, quando nos tempos áureos eu comprava um disco ou vinil. Até mesmo um CD. É outro tipo de experiência. É inevitável dizer que hoje eu conheço e já escutei inúmeras músicas de qualidade por causa da Internet.

Mas é também inevitável que algo de emocionante tenha se perdido no caminho, como a capacidade, e o tempo de poder se apreciar e degustar melhor a música, ou qualquer arte. Não se pode fazer da tecnologia um fim em si mesmo. É tão somente um meio.

Nada é 100% radical, nem eu o sou nessa opinião complexa que aqui proponho a vocês. Dou uma coçadela na cabeça e continuo aqui a comungar com vocês um favorável Pensamento Outro que possa se fazer refletir em todos.

Continuando esta virtual crítica, as opiniões favoráveis à ampla disseminação da tecnologia são aeradas e oportunamente calcadas em uma coisa que chamo de facilitadores de apreensão de uma ilusão. Pois é, pode ser isso o que acontece…

A estética apresentada a nós hoje corrompe nossa capacidade de assimilar tanta informação. O que foi criado para facilitar, na verdade facilitou e muito a busca de uma eterna ilusão, e não a realidade ou sua natureza, anteriormente buscada arduamente por filósofos e cientistas, por exemplo.

No videogame isso é claramente mostrado. A ilusão substitui e deforma a realidade, tornando-nos artimanhas do consumo.

A maquinaria e o exército tecnológico, que a cada dia têm mais soldados cadastrados nas prateleiras e mais e mais novidades, deram-nos a oportunidade de facilitar nossas vidas e torná-las mais visivelmente confortáveis.

Mas também nos deu a chave para vários complicadores infinitos, que nada mais fazem que nos tirar da verdadeira maneira de ser, usual, com conversas tecla a tecla no lugar dos usuais papos tête-à-tête.

É a armadilha dos tempos modernos. A tecnologia. Instável e inconstante, ela põe em jogo e em risco uma série de coisas. Como tudo na vida, tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. E assim é com os resultados e conseqüências da tecnomania.

É um empobrecimento cultural determinado pelo extremo apelo e apego ao mundo externo e objetivo. Mentes ávidas por mais calor e sentimento humano podem somente flutuar em mares flácidos como esses.

A beleza do mundo subjetivo consiste em superar as dificuldades do mundo objetivo e protagonizar sua potencialização. Mas não é o que está acontecendo. Para isso é preciso pensar.

Não somente racionalizar, raciocinar, e sim pensar aqui num sentido mais amplo, de criação, de insight, de identificação de novos caminhos e trilhas válidos para apreciarmos e dividirmos melhor esse universo que nos permeia. É preciso revisitarmos nossos desejos.

* Caio Garrido é escritor - autor do livro Pena que foi ontem -,  contabilista, toca bateria e está cursando Formação em Psicanálise.







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