por Bueno, cantor e compositor
Está internado no Hospital da Beneficência Portuguesa, já há três semanas, um dos maiores músicos brasileiros: Zé da Conceição. Segundo informação que me chega, talvez nunca mais volte a empunhar seu violão companheiro, ao qual escolheu para que exercesse a profissão de músico, profissão em que chegou a se aposentar, muito embora seja mísera sua aposentadoria.
Se Zé da Conceição vivesse num país em que a cultura fosse mais valorizada, e a profissão de músico fosse vista não como hobby, por certo ele não estaria na situação em que se encontra. Pra você que está lendo este meu texto e não conhece o personagem, vou falar dele um pouco.
Zé da Conceição tocou com Elis Regina, Elza Soares, Jair Rodrigues, Jamelão, Cauby Peixoto e outros grandes nomes da MPB, nomes de uma época em que para se cantar o requisito básico era ter voz não o que vemos hoje. Zé, cansado de viajar pelo Brasil acompanhando essas feras todas, decidiu parar e fixar residência na nossa Ribeirão Preto. E assim, com sua arte, seguiu enchendo os olhos de quem gosta de boa música.
Alem de tocar na noite, dava aulas de violão, sendo responsável pela formação de grandes músicos como Julio César, que hoje toca no Sambô, e Dany do Cavaco. Zé também foi professor de violão em São Paulo de Rolando Boldrin e sua esposa.
Zé da Conceição, hoje com 69 anos, está em uma cama de hospital, já não anda, seu braço esquerdo não obedece a seus movimentos, acho até que é o que mais o deixa adoentado. A música é pra ele uma espécie de alimento, durante treze anos tocou no Chorinho do Museu do Café com seu Grupo Roxinóis, sempre aos domingos. A noite paga cachês insignificantes para um músico do seu quilate.
A vida parece voar depois que a gente passa dos 50, a idade aperta e com ela vem pequenas doenças, contas em farmácias, daí vem o endividamento. Com ele foi assim, sua aposentadoria, que é pequena, mas que não deixa de ser um alento, é consumida pelas armadilhas em que ele caiu nesse tal de empréstimo consignado.
Quando deu por conta, nada sobrava no fim do mês, e não bastasse isso, quando as dores em suas costas apertaram, seu médico disse que ele teria que fazer exames de ressonância e outros mais e isso tinha alto custo. Lá foi o Zé que, no desespero para conseguir o vil metal, enroscou-se com um agiota. Zé é do tipo fechado, pouco se sabe de sua vida, quase não sorri, quem sabe se tivesse falado mais com pessoas próximas o desfecho não seria outro.
O que mais deixa preocupados Roberto Marani e Luizinho, seus amigos músicos que tocam com ele no museu, é o fato de não saberem o que Zé deu como garantia. Também ficaram sabendo de sua dívida de meses com o condomínio do pequeno prédio em que mora, alem de luz e água.
Alguns músicos estão se movimentando para ajudar Zé e sua esposa, que pouco pode fazer. Ela está com 70 anos. A Secretaria Municipal da Cultura está reservando uma data na segunda quinzena de julho, no Teatro de Arena, com toda a renda para Zé da Conceição. Sei que vai ser uma medida apenas paliativa, mas será uma grande ajuda. Estou contatando vários artistas de fora, espero que confirmem presença para poder marcar data.
Meu parceiro e amigo Doni Max já deu um grito: “Tô dentro!”. Doni, além de músico, compositor e cantor, também possui a Perfeisom, uma empresa que loca som para grandes eventos. O violeiro Sandro Dhiacanga confirmou participação, tenho certeza de que todos os músicos vão se doar, nessa hora são solidários.
Mas o hoje se faz necessário, e se você que está lendo este texto se sensibilizou, ajude, Zé da Conceição que com suas mãos, seu violão e sua música fez sorrir muitos corações quem sabe você faça o dele sorrir.
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