domingo, 3 de outubro de 2010

ENTREVISTA - Mário Féres

Caminhando nas trilhas da música

* Caio Garrido

Mário Féres nasceu em Marília, SP, em 1967. Começou sua carreira profissional em 1979. Toca piano e violão. É compositor, arranjador e produtor musical, auto didata. Além da boa parceria com a cantora Vânia Lucas, conta também com o diferencial de um grande trabalho de arranjador e compositor de trilhas musicais.

O pianista divide residência entre o Rio de Janeiro e Ribeirão Preto. Foi pianista do Quarteto Jobim Morelenbaum e já compôs trilhas para documentários de TV e para espetáculos teatrais e de dança. Recentemente, excursionou pela Europa acompanhando Jaques Morelenbaum.


Caio Garrido - Fale um pouco sobre seu começo de carreira e evolução na música.

Mário Féres - Comecei cedo na música. Tocava bateria com cinco anos de idade. Fui tocar no programa Almoço com as Estrelas, do Airton Rodrigues, na TV Tupi, em 1972. Mas na verdade aquilo era mesmo uma diversão de criança, puro prazer. Nem eu nem minha família pensávamos em carreira. Meu pai tinha conjunto de baile com os meus irmãos mais velhos e isso era um tremendo estímulo. Eu via os ensaios e imitava-os como qualquer criança. Aos 12 anos sim, toquei meu primeiro carnaval ganhando um dinheirinho com meu pai. Daí segui compondo canções pra festivais de música da escola e da cidade (Marília, SP). Naquela época eu já tinha uma banda com amigos e um primo. Aí fui tocar trompete, que era o único instrumento com o qual eu poderia entrar na banda do meu pai. Os outros que eu gostava já estavam ocupados. No carnaval, eu tinha cantado e tocado surdo, instrumento de percussão. Aos 17, tocava na noite de Marília, violão e teclado, às vezes bateria. Mas fiz vestibular pra odontologia, por orientação de meu pai e admiração pelo meu irmão mais velho que já era dentista. Me formei em 1988, aos 21 anos, mas nunca parei de tocar e amar profundamente a música.


CG - Como foi a transição, da Odonto para a Música?

MF - Fui pra Londrina (PR) me aperfeiçoar em Odontologia e lá encontrei uma escola de música na qual dei aulas e estudei com um músico que viria a ser meu sócio de uma escola de música em Marília. Na época eu já escrevia arranjos empiricamente e muito devagar, pois a notação musical ainda era um obstáculo. Em 1993 fui pra Ribeirão Preto onde foi exigido muito mais de mim como músico e acabei abandonando a odonto e me dedicando integralmente à música. Foi a época em que mais me desenvolvi como músico, compositor, arranjador e produtor musical. Fiquei lá por 17 anos, até o ano passado, e agora divido Ribeirão Preto com o Rio de Janeiro onde o mercado de trabalho é mais exigente e maior, com mais visibilidade e oportunidades. Mais concorrência também. Porém, com isso, toco com mais músicos e de diferentes formações. Conheço melhor esse meu Brasil musical, terra de grandes misturas e temperos musicais infindáveis. Escrevo trilhas para TV, teatro, dança e cinema. Componho música popular instrumental e canção. Canto, toco piano, violão, um pouco de contrabaixo e percussão. Faço arranjos e dirijo gravações de música. Amo o que faço e vejo a música brasileira como um grande e valoroso tesouro que temos e que começa a ser cada vez mais bem visto e explorado.

CG - Dos instrumentos que você toca, como são suas afeições, significados, com cada um deles?


MF - Gosto tanto de música, que gostaria de ter tempo pra me dedicar a vários instrumentos. Toco regularmente piano e violão. Como gravo muito os meus trabalhos, muitas vezes toco também outros instrumentos como escaleta, contrabaixo, viola caipira e percussão. E também canto. Mas, no geral, prefiro ter um bom percussionista ao meu lado e os instrumentos necessários pra fazer aquele determinado som. Uso muito as cordas, geralmente em quarteto, e os sopros diversos. É sempre melhor tocar com mais músicos. Tenho paixões individuais por cada instrumento que toco e no momento que estou tocando sempre imagino que poderia ter mais tempo de dedicação aquele instrumento. Tenho uma queda especial pelo contrabaixo. Talvez uma culpa mal resolvida por não ter me dedicado mais a ele. O violão é um velho companheiro. Me sinto livre para pensar melodicamente quando acompanho nesse instrumento. O piano é mais senhor de tudo. Para escrever arranjos, tem de ser no piano. Componho também no piano e sou mais requisitado para tocá-lo. Acho que tem menos pianistas e acabei desenvolvendo especial relação com esse instrumento, por amar demais a obra do Tom Jobim.



CG - Quais as diferenças principais em compor para uma trilha sonora e para uma música instrumental, por exemplo?

MF - Primeiramente, uma música instrumental pode ser uma trilha. Fazer uma trilha depende de muitos fatores a que se destina essa trilha: cinema, dança, teatro, filme publicitário. De acordo com o "esse tipo" de possibilidade você trabalha com diferentes expectativas e possibilidades de resultado. Vamos supor que a trilha seja para cinema. Normalmente cinema traz consigo já uma carga de trabalho muito grande, orçamentos grandes e se trabalha normalmente com orquestra, pela grandiosidade e o grau de exigência desse tipo de trabalho. Escrever para orquestra é trabalho gigantesco e pesado, demorado. Por outro lado, é sempre maravilhoso trabalhar assim. A gente se emociona muito quando tem um trabalho desses pela frente, principalmente se o orçamento é bom e você pode contar com uma boa orquestra e bom estúdio de gravação. Falando um pouco sobre estilo, imagine que a trilha é para dança e o tema do espetáculo e das coreografias seja bem futurista. Certamente teria que contar com sons eletrônicos, teclados, sintetizadores que podem ou não misturar-se a sons acústicos ou da orquestra, dependendo da proposta e do compositor, entende? O ambiente ou "clima" desejado é que definem o tipo de instrumentação e recursos que eu vou precisar para tal.

* Caio Garrido é baterista e amante da boa música. Colaborador da Revista Modern Drummer Brasil e do blog RIBEIRÃO PRETO MUSICAL. Também é idealizador do blog Música Contemporânea.

5 comentários:

  1. O Mario Feres é um anjo, um homem iluminado por Deus.

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  2. Tive a oportunidade de conhecê-lo e conviver em algumas oportunidades com ele. Predestinado, iluminado com carísma indescritível. Vai deixar saudades!!!! Esse dia 1 de abri, dia da mentira, poderia ser uma delas, mas infelizmente ele partiu jovem deixando muitas saudades
    Regina Helena (jornalista)

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  3. QUE NOTICIA TRISTE, AMIGO MEU DE INFANCIA, VAI TER MUITA BOA MUSICA NO CEU !!! DESCANSE EM PAZ MARIO !!!

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  4. São 5 da manhã. Não consigo dormir...fui cantar como sempre, mas hoje, um canto triste, melancólico, fruto da minha tristeza, da perda, da falta que o Mário vai fazer..e como fica ? por que ele ? Vânia, Luisa e Thomas órfãos do amor, do tato, dos acordes especiais de um menino de imenso talento...e a vida segue, porém mais triste...sem o Mário tudo triste....

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  5. Muito triste!!!Mário, voce fará muita falta!!!Fica com Deus, onde agora é seu lugar, e onde voce vai alegrar com sua música!!!

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